O Futuro

Nós não criamos o futuro.

Quando se diz que o homem cria o seu futuro é uma maneira de falar, seria preferível dizer que ele escolhe o seu caminho.

Vós direis: “Irei por aquele caminho”, é certo, mas não sois vós que ides criar as regiões e os seres que encontrareis nesse caminho. Há muito que tais regiões e entidades foram criadas por Deus. Nós não criamos o nosso mau destino, encaminhamo-nos para ele: areias movediças, pântanos, florestas perigosas… Nós simplesmente decidimos a nossa orientação, mais nada. E se for um futuro esplêndido, o caso é o mesmo: nós é que decidimos caminhar para ele. Ele está ali, à nossa espera.

Existem no espaço milhares de regiões, ou esferas, povoadas por uma infinidade de criaturas e, conforme a nossa decisão, assim visitamos as regiões mais elevadas ou as regiões mais profundas.

Todas as infelicidades e todas as venturas já existem, outros as conheceram antes de nós, elas foram criadas há muito; apenas nos cabe decidir para quais iremos. Por isso deveis decidir agora mudar a vossa direção e orientar-vos para as regiões do Paraíso, que Deus criou para vós desde a Eternidade.

Omraam Mikhaël Aivanhov

O Zodíaco

Todos aqueles que penetram na faixa do Zodíaco estão submetidos aos imperativos do tempo (períodos, ciclos) e do espaço (localização no interior da faixa). Só os puros espíritos são livres, só eles não são acorrentados pelo tempo e pelo espaço. Mas, a partir do momento em que se encarnam, entram na faixa do Zodíaco e ficam presos no círculo mágico do implacável destino que acorrenta mesmo os seres mais luminosos, os grandes Filhos de Deus.


Aliás, o próprio ser humano representa, com o seu corpo físico, o círculo do Zodíaco, no interior do qual o seu espírito está agora cativo. A cada signo corresponde uma parte do corpo:


ao Carneiro, a cabeça
ao Touro, o pescoço
aos Gêmeos, os braços e pulmões
ao Câncer, o estômago
ao Leão, o coração
à Virgem, os intestinos e o plexo solar
à Balança, os rins
ao Escorpião, os órgãos genitais e de reprodução
ao Sagitário, as coxas e o fígado
ao Capricórnio, os joelhos
ao Aquário, as panturrilhas e calcanhares
aos Peixes, os pés


É no momento do nascimento que o corpo etérico da criança, que é como que uma cera mole e virgem, recebe o cunho das influencias astrais. Depois, a cera arrefecida não pode ser modificada. Quando a criança solta o seu primeiro grito, o céu apõe o seu selo no seu corpo etérico e fixa o seu horóscopo, no qual se inscreve o Destino. O único meio que o homem tem para se libertar das limitações que os astros lhe impõem é trabalhar para restabelecer conscientemente a ligação com Deus; é assim que ele escapa à lei da necessidade para entrar sob a influencia da lei da graça. Mas esta liberdade à qual todos aspiramos é a última coisa que obteremos. por isso a liberdade é considerada como a coroa da espiritualidade; esta coroa é um círculo de luz que o Iniciado traz por cima da cabeça para mostrar que ele saiu do círculo das limitações terrestres.

Omraam Mihaël Aivanhov

O Tarô

O Tarô é um livro de Conhecimento.
Sua origem perde-se no mar dos tempos…
Ele é constituido por 78 lâminas, denominadas Arcanos. A palavra Arcano designa um Mistério, uma Chave de Saber e Compreensão.

Sua estrutura é composta de três partes:

  • Arcanos Maiores -energias atuantes
  • Arcanos Menores – situações e emoções
  • Arcanos Intermediários ou Arquétipos – representantes da Corte (Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete) – figuras humanas, de cada um dos quatro naipes:
  • Paus – elemento Fogo
  • Copas – elemento Água
  • Espadas – elemento Ar
  • Ouros – elemento Terra

O Tarô possui sete linguagens integradas ao seu simbolismo: Mitologia, Hermetismo, Alquimia, Cabala, Astrologia, Numerologia e Leis Universais.

Sua leitura e interpretação, através de jogos, nos permitem clarear a visão e o entendimento de situações, pessoas, relacionamentos, apontando muitas vezes, as melhores direções a serem percorridas quando estamos diante de determinadas escolhas.

É um instrumento profundo e delicado, um Guia para orientar nossos caminhos.
Sua leitura derivam de conhecimento técnico, experiência e elevado grau de intuição.

O Que é Astrologia

“Todas as partes do mundo criado estão ligadas entre si e permutam suas influências. O ritmo equilibrado do Universo tem sua raiz na reciprocidade. O homem, em seu aspecto mortal, tem de combater dois tipos de forças – primeiro os tumultos internos do ser causados pela mistura de terra, água, fogo, ar e elementos etéreos; segundo, os poderes externos e desintegradores da Natureza.

Enquanto o homem luta com sua mortalidade, ele é afetado por miríades de mutações do Céu e da Terra.

Astrologia é o estudo das reações do homem aos estímulos planetários. Os astros não tem qualquer benevolência ou aversão conscientes; eles meramente enviam radiações positivas ou negativas. Por si só não ajudam nem prejudicam a humanidade, mas oferecem um canal lícito para que se manifeste o equilíbrio de causas e efeitos que, no passado cada homem pôs em movimento.

Uma criança nasce no dia e hora exatos em que os raios celestes estão em harmonia matemática com seu carma individual. Seu horóscopo é um retrato desafiante, revelando seu passado inalterável e os resultados prováveis em seu futuro. Corretamente, porém, o mapa natalício só pode ser interpretado por homens de sabedoria intuitiva, e estes são poucos.

A mensagem audaz e heràldicamente proclamada através dos céus no momento do nascimento, não tem a intenção de dar ênfase ao Destino – o resultado do bem ou mal pretéritos – mas o de despertar a vontade humana de escapar de seu cativeiro universal.

O que o homem fez, ele pode desfazer. Ninguém além dele mesmo foi o instigador das causas cujos efeitos agora prevalecem em sua vida. Ele pode transcender qualquer limitação, em primeiro lugar porque a criou com suas próprias ações, e em segundo, porque possui recursos espirituais que não estão sujeitos à pressão planetária.

O homem sábio derrota seus planetas – isto é, seu passado – transferindo sua fidelidade da Criação ao Criador. Quanto mais efetua sua unidade com o Espírito menos pode ser dominado pela Matéria.

A alma é sempre livre: imortal porque não tem nascimento. Não pode ser regida pelos astros.

O homem é uma alma e tem um corpo. Quando situa apropriadamente o seu senso de identidade, deixa para trás todos os padrões compulsórios. Enquanto permanecer confuso em seu estado ordinário de amnésia espiritual, experimentará os grilhões insidiosos da lei do ambiente.

Deus é harmonia: quem com Ele sintoniza nunca realizará ação errônea. Suas atividades concordarão com o cronômetro natural e exato da Lei Astrológica. Após a meditação e prece profundas, Ele estará em contato com sua consciência.”

P. Yogananda

Liberdade

Liberdade significa a capacidade de agir guiado pela alma, e não compelido por desejos e hábitos. Obedecer ao ego leva à escravidão; obedecer à alma leva a libertação.

Até você agir, você é livre, mas depois que agiu, o efeito da ação o perseguirá, quer queira ou não. Essa é a lei do karma. Você é uma pessoa que pode agir com liberdade, mas quando realiza determinado ato, deverá colher os frutos desse ato.

A libertação do homem pode ser definitiva e imediata, se ele assim o quiser; não depende de vitórias externas, mas internas.

O caminho que leva à libertação é o caminho do serviço, ajudando os outros. O caminho para a felicidade é o caminho da meditação e da sintonia com Deus. Derrube as limitações que seu ego lhe impõe; livre-se do egoísmo; liberte-se da consciência do corpo; esqueça-se de si mesmo; ponha fim a esta cadeia de encarnações; embeba o seu coração em tudo, seja uno com toda criação.

Você nem sabe quão privilegiado é por ter nascido na forma de um ser humano. Nisso você é mais abençoado do que qualquer outro ser vivente. O animal não é capaz de meditar e comungar com Deus. Você tem a liberdade de procurar o Senhor e não a utiliza.

A alma está presa ao corpo por uma corrente de desejos, tentações, problemas e preocupações, mas está sempre tentando libertar-se. Se você ficar puxando essa corrente que o prende à consciência mortal, qualquer dia a invisível Mão Divina intervirá, partirá os grilhões e você estará livre.

Poder fazer de tudo o que se queira não é o verdadeiro sentido da liberdade de ação. Você deve examinar até que ponto é livre e até que ponto está sendo influenciado pelos maus hábitos. Ser bom porque isto se tornou um hábito, também não é liberdade. Sentir uma tentação não é pecado, mas ser capaz de resistir e vencer a tentação é força. Isto é liberdade, porque você está agindo por livre vontade e livre escolha.

Quando pelo discernimento e ação correta o homem torra todas as sementes das más tendências acumuladas na mente, cada célula microscópica do cérebro torna-se um trono para um brilhante rei de sabedoria, inspiração e saúde, que canta e proclama a glória de Deus para as células inteligentes do corpo.

Os homens que alcançaram este estado são realmente livres. Estes seres liberados não serão tocados pelo karma nas futuras encarnações.
Quando reencarnam, fazem-no exclusivamente para enxugar as lágrimas daqueles que ainda estão presos ao karma. Estes mestres liberados estão aureolados por uma invisível luz curativa. Eles espargem, por onde passam, a luz da prosperidade e da saúde.

Meu Mestre me ensinou: ” a liberdade da vontade não consiste em praticar ações de acordo com os ditames de hábitos pré-natais ou pós-natais, nem de acordo com os caprichos da mente. Ter uma vontade livre é agir de acordo com as sugestões da sabedoria e da livre-escolha. Se você sintonizar sua vontade com a minha (a vontade guiada pela sabedoria do guru), você achará a liberdade.”

Resolva que você não será mais afetado pelos problemas; que não será mais tão sensível; que não será mais vítima de hábitos e humores; resolva que você será livre como um pássaro.

Você não poderá ser livre enquanto não queimar as sementes das más ações passadas no fogo da sabedoria e no fogo da meditação.

Paramahansa Yogananda

O Inferno

“Inferno é um estado de consciência em que não há entrega total a Deus, onde procuramos fazer uma troca, colocando nossos interesses pessoais no lugar do cumprimento da vontade divina…

Viver no Inferno é quando a vida nos parece sem sentido, sombria, tediosa, assustadora, sem objetivo, separada de todas as coisas e da Criação.

Tal alienação de Deus, que existe em vários graus e que se originou com a Queda dos Anjos, cria, no plano cósmico, novos mundos, de acordo com as atitudes transformadas dos seus autores: mundos escuros, designados na literatura espiritual como esferas de escuridão (Qliphot, na Cabala), e que nada mais são do que as formas de energia de desarmonia e ódio.”

Clarice Nunes
Dicionário de Pathwork

Ser ou Não Ser

São poucas as pessoas, em nossa cultura, que tem a coragem de ser si mesmas. A maioria adota papéis, veste máscaras, põe disfarces. Não acreditam que seu self genuíno seja aceitável. Não foi aceito pelos pais : “não faça essa cara triste”, diz a mãe. “Ninguém amará você! Ponha um sorriso nessa cara !”.

E assim, a criança coloca uma máscara sorridente para ser amada. “Ombros pra trás, peito para a frente “, diz o pai para seu filho pequeno, que então passa a adotar essa fachada de masculinidade. Os papéis e jogos, em geral, desenvolvem-se com mais sutileza em resposta a exigências implícitas e a pressões por parte dos pais.

As máscaras, disfarces e papéis tornam-se estruturadas no corpo porque a criança acredita que esta impostura conquistará a aprovação e o amor dos pais. Nossos corpos são moldados por forças sociais, dentro da família, que modelam e determinam nosso destino…que é o de termos que tentar agradar para receber aprovação e amor.

Alexander Lowen – “Medo da Vida”

Criando o Falso Eu

Em suas tentativas de reprimir pensamentos, sentimentos e comportamentos, os pais usam várias técnicas. Às vezes emitem ordens claras: “Não me diga que você está pensando assim!”, “Menino crescido não chora !”, “Não bote a mão aí nessa parte do seu corpo !”, “Nunca mais quero ouvir você dizendo isso !”, e “Não é assim que a gente age aqui na nossa família !” Ou se não – como fazem as mães quando vão com o filho às lojas – ralham, ameaçam e espancam.

Muitas vezes os pais moldam a criança através de um processo mais sutil de invalidação – simplesmente optam por não ver ou não recompensar determinados comportamentos. Por exemplo, se os pais dão pouco valor ao desenvolvimento intelectual, presenteiam os filhos com brinquedos e equipamentos esportivos, não com livros nem com kits de ciências. Se os pais acreditam que as meninas devem ser gentis e femininas e os meninos fortes e afirmativos só recompensarão seus filhos por comportamentos adequados ao sexo de cada um. Por exemplo, se o garoto entra na sala rebocando um brinquedo pesado, dizem: “Olha que garotão forte que você é !”, mas se a menina é que entra com aquele mesmo brinquedo, eles previnem: “Cuidado para não estragar o seu vestidinho !”.

A influência mais profunda, contudo, que os pais exercem sobre os filhos é através do exemplo. A criança observa instintivamente as escolhas que os pais fazem, as liberdades, prazeres que eles se concedem, os talentos que desenvolvem, as habilidades que ignoram e as regras que seguem. Isso tudo tem um efeito profundo sobre ela. “É assim que se vence na vida !”. Quer a criança aceite o modelo dos pais, quer se rebele contra ele, essa socialização inicial também desempenha um papel significativo na escolha dos companheiros.

A aceitação pela criança dos ditames da sociedade passa por diversos estágios previsíveis. É típico que a primeira resposta seja esconder dos pais comportamentos proibidos. A criança tem pensamentos de raiva, mas não os verbaliza. Ela explora seu corpo na privacidade do quarto, atormenta os irmãozinhos menores quando os pais estão fora. E, finalmente, chega à conclusão de que alguns pensamentos e sentimentos são tão inaceitáveis que deveriam ser eliminados de dentro de si própria; assim ela constrói um pai e uma mãe imaginários dentro de sua cabeça para policiar seus próprios pensamentos e atividades – essa é a parte a que a Psicologia Freudiana batizou de Superego.

A partir desse momento, sempre que tem um pensamento proibido ou se permite um comportamento “inaceitável “, a criança experimenta um golpe de ansiedade administrado por ela mesma. Esse golpe é tão desagradável que ela faz adormecer algumas dessas partes proibidas de si mesma, ela as reprime. O preço ultimo de sua obediência é a perda da totalidade.

Para preencher esse vazio, a criança cria um “falso eu“, uma estrutura de caráter que serve ao duplo propósito de camuflar as partes do seu ser que ela reprimiu e protegê-la contra novos sofrimentos. Por exemplo, o menino criado por uma mãe inacessível e sexualmente repressora pode tornar-se um “durão”. Ele diz a si mesmo: “Não ligo se minha mãe não é afetuosa. Não preciso dessa bobagem sentimental. Posso me virar sozinho ! E, outra coisa… eu acho que sexo é sujo !”


E ele acaba por aplicar esse padrão de resposta a todas as situações. Não importa quem tente se aproximar dele, ele levanta a mesma barricada. Mais tarde, depois de superar a relutância em se envolver com relacionamentos amorosos, é provável que ele venha a criticar sua companheira pelo desejo de intimidade e saudável sexualidade que ela demonstra: “Por que você quer tanto contato ? Por que você é tão obcecada por sexo ? Isso não é normal !”

Um menino diferente talvez reagisse de modo oposto a esse tipo de criação; ele iria exagerar seus problemas, na esperança de que alguém viesse em seu socorro: “Coitadinho de mim, estou ferido, profundamente ferido. Preciso de alguém que tome conta de mim !”

Outro menino talvez se tornasse avarento, lutando para se apoderar de cada naco de amor, comida ou bens materiais que cruzassem seu caminho, com medo de nunca ter o bastante. Mas qualquer que seja a natureza do falso eu, seu propósito é o mesmo : minimizar a dor de perder uma parte da totalidade divina da criança original.

Em algum ponto na vida de uma criança , no entanto, essa engenhosa forma de auto-proteção torna-se a causa de novos ferimentos, à medida que ela é criticada por possuir esses traços negativos. Os outros a condenam por ser inacessível ou carente ou egoísta ou gorda. Os que atacam não vêem a ferida que ela tenta proteger nem avaliam a sábia natureza de sua defesa; tudo o que vêem é o lado neurótico de sua personalidade. Ela e julgada inferior, ela não é íntegra.

E agora a criança está presa na sua própria armadilha. Ela precisa agarrar-se a seus traços adaptativos de caráter porque eles servem a um propósito útil , mas ela não quer ser rejeitada. O que pode ela fazer ? A solução é negar ou atacar os que criticam. “Não sou fria e distante”, diz ela em defesa própria, “sou, isso sim, forte e independente !”, ou “não sou fraca e carente ; sou sensível !”. Ou ainda, “não sou ávida e egoísta, sou previdente e prudente !”. Em outras palavras : “Não é de mim que você está falando. Você só está me vendo sob uma luz negativa !”

Num certo sentido ela está certa: seus traços negativos não são parte da sua natureza original, foram forjados na dor e tornaram-se parte de uma identidade que foi assumida, um “pseudônimo que a ajuda em suas manobras num mundo complexo e as vezes hostil. Isso não quer dizer, no entanto , que ela não tem tais traços negativos: existem inúmeras testemunhas que poderão comprovar que ela os possui. Mas, para manter uma auto-imagem positiva e ampliar suas chances de sobrevivência, ela precisa negá-los. Esses traços negativos tornam-se aquilo que chamamos “o Eu Reprimido”, partes do falso Eu que são demasiado dolorosas para serem reconhecidas.

Classificamos a proliferação de partes do Eu Original – aquela unidade amorosa na qual nascemos – em três divisões:

  • Eu Perdido” – as partes que fomos obrigados a reprimir devido às exigências da sociedade
  • Falso Eu” – a fachada que erigimos para preencher o vazio criado por essa repressão e pela falta de desenvolvimento
  • Eu Reprimido” – partes negativas do nosso falso Eu que, não sendo aprovadas por nós mesmos, as negamos

De toda essa complexa colagem, em geral só percebemos as partes do nosso Ser original que ainda estão intactas bem como certos aspectos do falso Eu. Juntos, esses elementos formam a nossa “Personalidade”, o modo como nos descrevemos para os outros.

O Eu Perdido está quase totalmente fora de nossa percepção; rompemos praticamente todas as ligações com partes reprimidas do nosso ser.

O Eu Reprimido (as partes destrutivas do falso Eu) paira logo abaixo do limiar de nossa percepção e está ameaçado de emergir. Para mantê-lo oculto arregimentamos todas as nossas forças ou então projetamos seu conteúdo sobre os outros.

Harville Hendrix

O Rio dos Sentimentos

Nossos sentimentos desempenham um papel muito importante por dirigirem todos os nossos pensamentos e ações. Existe em nós um rio de sentimentos, no qual cada gota d’água é um sentimento diferente e cada um depende de todos os outros para sua existência. Para observar esse rio, sentamo-nos à sua margem e identificamos cada sentimento à medida que ele vem à tona, passa por nós e desaparece.


Há três tipos de sentimentos — agradáveis, desagradáveis e neutros. Quando temos um sentimento desagradável, podemos querer afastá-lo. O mais eficaz é voltar à nossa respiração consciente e apenas observá-lo, identificando-o em silêncio para nós mesmos. “Inspirando, sei que há um sentimento desagradável em mim. Expirando, sei que há um sentimento desagradável em mim.” Chamar o sentimento pelo seu nome, “raiva”, “tristeza”, “alegria” ou “felicidade”, nos ajuda a identificá-lo com clareza e reconhecê-lo em maior profundidade.

Podemos usar nossa respiração para entrar em contato com nossos sentimentos e aceitá-los. Se nossa respiração for leve e tranqüila — resultado natural da respiração consciente — nossa mente e nosso corpo irão lentamente se tornando leves, tranqüilos e claros. E da mesma forma nossos sentimentos. A observação plenamente consciente se baseia no princípio da “não-dualidade”: nosso sentimento não está separado de nós nem foi causado apenas por algo externo a nós. Nosso sentimento é nosso eu, e temporariamente nós somos esse sentimento. Não submergimos nesse sentimento, nem nos aterrorizamos com ele, tampouco o rejeitamos. Nossa atitude de não nos agarrarmos aos nossos sentimentos e de tampouco rejeitá-los é a atitude de desapego, uma parte vital da prática da meditação.

Se encararmos nossos sentimentos desagradáveis com cuidado, afeição e não-violência, podemos transformá-los naquele tipo de energia que é saudável e que tem a capacidade de nos nutrir. Através da observação consciente, nossos sentimentos desagradáveis podem ser muito esclarecedores para nós, proporcionando-nos revelações e compreensão a respeito de nós mesmos e da nossa sociedade.


A não-cirurgia
A medicina ocidental dá ênfase demais à cirurgia. Os médicos querem eliminar o que não for desejável. Quando temos algum distúrbio no corpo, eles muitas vezes nos aconselham uma operação. O mesmo parece se aplicar à psicoterapia. Os terapeutas pretendem nos ajudar a descartar o que é indesejável e manter somente o que é desejável. Mas o que sobra pode não ser muito. Se tentarmos nos livrar do que não queremos, podemos nos livrar da maior parte de nós mesmos.

Em vez de agir como se pudéssemos nos desfazer de partes de nós mesmos, deveríamos aprender a arte da transformação. Podemos transformar nossa raiva, por exemplo, em algo mais salutar, como a compreensão. Não precisamos de cirurgia para eliminar nossa raiva. Se nos enfurecermos com nossa raiva, teremos duas raivas ao mesmo tempo. Devemos apenas observá-la com amor e atenção. Se cuidarmos da nossa raiva dessa forma, sem tentar fugir dela, ela se transformará. E uma pacificação. Se estivermos em paz em nosso íntimo, poderemos aceitar nossa raiva. E possível tratar a depressão, a ansiedade, o medo ou qualquer sentimento desagradável dessa mesma forma.

Passos para transformar os sentimentos

O primeiro passo ao lidar com os sentimentos é reconhecer cada sentimento no instante em que surge.
O meio para isso é a plena consciência. No caso do medo, por exemplo, você recorre à plena consciência, olha para o medo e o reconhece como medo. Você sabe que o medo brotou de você mesmo e que a plena consciência também brotou de você mesmo. Os dois estão em você, não em luta, mas um cuidando do outro.

O segundo passo consiste em se tornar uno com o sentimento.
Melhor não dizer, “Vá embora, Medo. Não gosto de você. Você não é eu.” Muito mais eficaz é dizer, “Oi, Medo. Como é que você está hoje?” Em seguida, você pode estimular esses seus dois aspectos, a plena consciência e o medo, a se cumprimentarem como amigos e a se unirem. Isso pode parecer assustador, mas, como você já sabe que você é mais do que seu medo, não é preciso se amedrontar. Desde que sua mente esteja alerta, ela fará companhia ao seu medo. A prática fundamental é nutrir a plena consciência com a respiração consciente, para mantê-la alerta, cheia de vida e força. Embora no inicio sua plena consciência possa não ser muito potente, se você a alimentar, ela se tornará mais forte. Contanto que a sua consciência esteja plena e presente, você não será submerso pelo medo. Na realidade, você começará a transformá-lo no exato instante em que dentro de si der à luz a percepção.

O terceiro passo é o de acalmar o sentimento.
Como a consciência plena está cuidando bem do seu medo, ele começa a acalmar-se. “Inspirando, acalmo as atividades do corpo e da mente.” Você acalma seu sentimento só por estar com ele, como uma mãe segurando ternamente o filhinho que chora. Ao sentir a ternura da mãe, o neném se acalma e pára de chorar. A mãe é sua mente alerta, nascida das profundezas da sua consciência, e ela tratará do sentimento da dor. A mãe que segura o bebê forma uma unidade com ele. Se a mãe estiver pensando em outras coisas, a criancinha não se acalmará. A mãe tem de abandonar as outras coisas e apenas segurar seu filhinho. Por isso, não evite seu sentimento. Não diga, “Você não é importante. Você é só um sentimento.” Passe a formar uma unidade com ele. Você pode dizer, “Expirando, acalmo meu medo.”

O quarto passo é largar o sentimento, soltá-lo.
Graças à sua calma, você está à vontade, mesmo em meio ao medo; e sabe que esse medo não vai crescer e se transformar em algo esmagador. Quando você se descobre capaz de tomar conta do seu medo, ele já está reduzido a um mínimo, tornando-se mais brando e menos desagradável. Agora você pode sorrir para ele e deixá-lo partir, mas por favor não pare por aqui. Acalmar e largar um sentimento são apenas curas para os sintomas. Você agora tem a oportunidade de se aprofundar e trabalhar na transformação da raiz do seu medo.

O quinto passo é olhar profundamente.
Você examina em profundidade o seu bebê — seu sentimento de medo — para ver o que está errado, mesmo depois que o bebê parou de chorar, mesmo depois que o medo se foi. E impossível segurar uma criança no colo o tempo todo. Por isso, você deve examiná-la para ver a causa do que está errado. Com esse exame, você verá o que o ajudará a começar a transformar o sentimento. Você perceberá, por exemplo, que seu sofrimento tem muitas causas, internas e externas ao seu corpo. Se há algo de errado em volta dele, se você conserta a situação, com carinho e cuidado, ele se sentirá melhor. Ao examinar seu bebê, você verá os elementos que o estão fazendo chorar. Ao vê-los, você saberá o que fazer e o que não fazer para transformar o sentimento e se sentir livre.

Esse processo é semelhante ao da psicoterapia. Em companhia do paciente, o terapeuta observa a natureza da dor. Muitas vezes, o terapeuta pode revelar causas de sofrimento que se originam da forma pela qual o paciente encara a vida, das opiniões que ele tem sobre si mesmo, sobre a sua cultura e o mundo em geral. O terapeuta examina esses pontos de vista e essas opiniões com o paciente, e juntos eles colaboram para libertá-lo daquele tipo de prisão em que estava. No entanto, o esforço do paciente é crucial. O professor deve trazer à luz o professor que existe dentro do aluno; e o psicoterapeuta deve trazer à luz o psicoterapeuta que está no íntimo do seu paciente. O “psicoterapeuta interno” do paciente poderá então trabalhar em tempo integral de uma forma muito eficaz.

O terapeuta não trata do paciente simplesmente lhe repassando um outro conjunto de opiniões. Ele tenta ajudar o paciente a perceber que tipos de idéias e de crenças levaram ao seu sofrimento. Muitos pacientes querem se ver livres dos sentimentos dolorosos, mas não querem se livrar das opiniões, dos pontos de vista (CRENÇAS) que são as verdadeiras raízes dos seus sentimentos. Portanto, o terapeuta e o paciente têm que trabalhar juntos para ajudar o paciente a ver as coisas como elas são. O mesmo vale para quando recorremos à plena consciência para transformar nossos sentimentos. Depois de reconhecermos o sentimento, de nos tornarmos unos com ele, de o acalmarmos e de o largarmos, podemos examinar suas causas em profundidade. Elas muitas vezes se baseiam em percepções incorretas. Assim que compreendemos as causas e a natureza dos nossos sentimentos, eles começam a se transformar.

(Thich Nhat Hanh. “Paz a cada passo: como manter a mente desperta em seu dia-a-dia”
Ed. Rocco, 1993

O Trabalho com o Eu Superior

Só podemos dar um encaminhamento positivo à nossa vida quando estamos dispostos a assumir responsabilidade por ela como ela é agora.

A pior forma de escravização da mente é sucumbir à mentalidade da vítima, de acordo com a qual tudo o que somos é resultado dos atos de outras pessoas. Quando caímos na armadilha desta crença, ficamos impotentes, humilhados, incapazes de mudar ou de aproveitar qualquer opção que se apresente. Exigimos que os outros mudem primeiro para nos sentirmos livres, poderosos, o que for. Gastamos toda nossa energia tentando mudar os outros ou as circunstâncias. Agindo assim, não somos livres.

É verdade que, num dado momento, pode ser preciso culpar os outros ou esbravejar contra a sociedade, contra os pais ou o destino, com intuito de descarregar os sentimentos e perceber em que sentido ainda estamos presos à impotência e à desesperança. Mas se mantivermos a crença na vitimização, trairemos a mais profunda verdade do nosso ser, ou seja, a de que somos agentes livres e criativos da divindade, por mais que estejamos temporariamente limitados e distorcidos, e por mais restritivas que sejam as circunstâncias cármicas.

Quando percebemos que estamos neste mundo limitado e dualista, mas não somos necessariamente deste mundo também saberemos que estamos unidos ao criador. Nossa tarefa é manifestar tanto quanto possível a nossa divindade inerente, aprendendo a ser co-criadores positivos no nosso mundo. O primeiro passo é assumir a responsabilidade pela criação de nossa própria vida, tal como ela se apresenta na atualidade.

Somos responsáveis pela nossa vida simplesmente porque ninguém mais poderia sê-lo. Estamos constantemente sujeitos a muitas influências e condicionamentos externos, passados e presentes, e contudo somente nós conduzimos a nossa experiência de vida a cada momento.
Por mais caótica que pareça nossa vida num determinado momento, somos nós os autores das escolhas atuais.

Essa verdade não deve ser usada para nos diminuir quando a vida vai mal nem para nos engrandecer quando ela vai bem. É fácil distorcer a idéia da responsabilidade pessoal e transformá-la no dever de assumir a culpa pelas coisas “ más” da vida e o crédito pelas “boas’. A criação da vida não é uma questão de culpa ou crédito do Ego, pois as forças criativas que moldam a nossa vida incluem complexas forças inconscientes, coletivas e circunstanciais que estão além do controle do pequeno Ego. No entanto, também é verdade que as escolhas de vida pessoais tanto ao nível consciente como no inconsciente, em última análise cabem exclusivamente a nós.

Cada um de nós manifesta um conjunto único de realidades, organizado como um Eu separado. Cada um de nós é uma expressão complexa do que os seres humanos podem expressar e vivenciar. Somos muito mais do que o Eu separado delimitado pela pele. No entanto, cada um de nós também é um Eu diferenciado, um corpo separado. A vida que vivemos agora precisa ser aceita como a manifestação do nosso centro singular de consciência criativa – tanto do Eu Inferior quanto do Superior, nos níveis da personalidade do Ego, da Criança interior e da Alma Transpessoal.

Quando aprendemos a reconhecer o Centro Criativo Interior, podemos aprender a criar a vida de maneira muito mais harmoniosa. Aprendemos a criar conscientemente, a partir do Eu Superior e não a criar inconscientemente, a partir do Eu Inferior. Mas, para aprender a criar positivamente, em primeiro lugar é preciso aceitar a responsabilidade sem atribuir culpas pelas nossas criações negativas na vida.

Suzan Thesenga
“O Eu sem defesas”